30 anos do grupo teatral Arte-Em-Cena

Fundado no final dos anos 80, o grupo comemora aniversário com o espetáculo “A Visita”

Por Evandro Lunardo, Givanildo Almeida, Jaci Freire e Jéssica Roseni

O grupo de teatro Arte-Em-Cena comemora três décadas em 2017. O reconhecido coletivo que fomenta as artes cênicas na cidade de Caruaru estreou com a montagem de “Quinze anos depois”, de Bráulio Tavares, sob a direção de José Manoel. Esse espetáculo angariou os prêmios de melhor ator e melhor atriz do Festival Nacional de Teatro de São Gonçalo dos Campos (BA) e obteve a indicação de melhor ator, para Severino Florêncio, no Festival Nacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP). O Arte-Em-Cena é célebre pelo desenvolvimento de pesquisa na dramaturgia, que tem como base o aprendizado do ator na complexidade dos processos de criação artística.

A fundação do grupo foi realizada em meio a efervescência da cena teatral em Caruaru na década de 80, sob a competência do ator, diretor e produtor cultural, Severino Florêncio. Severino é natural de Bezerros e há 35 anos desenvolve iniciativas artísticas no teatro pernambucano. Sua carreira começou nos anos 70, em Caruaru, quando participou do grupo de jovens da Igreja do Rosário. Em seguida, integrou o grupo caruaruense Teatro Experimental de Arte (TEA). No início dos anos 80, criou o grupo de Teatro do Sesc/Caruaru, que até hoje revela grandes talentos nas artes cênicas. Fundou o grupo Arte-em-Cena em 1987, produzindo grandes espetáculos e arrematando prêmios nos principais festivais brasileiros de teatro. O artista também integra, há mais de dez anos, o elenco da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém.

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O segundo espetáculo foi encenado em 1991. A peça “Avatar” foi concebida pelo dramaturgo Paulo Afonso Grisolli e foi também dirigida por José Manoel. O corpo de atores do grupo sempre teve destaque, revelando talentos como Prazeres Barbosa e Maria Alves. “Avatar” arrebatou plateias e conquistou prêmios, dentre eles, está o de melhor direção do Festival Nacional de Teatro de João Pessoa (PB). Nesse mesmo festival, as atrizes Prazeres Barbosa e Maria Alves se consolidaram, recebendo os prêmios de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente. Dois anos após o êxito de “Avatar”, o grupo Arte-Em-Cena experimenta o sucesso daquele que certamente é o seu espetáculo mais emblemático: “Dorotéia vai à guerra”. Por meio de estudos de aperfeiçoamento para a composição dos personagens, o grupo atingiu a excelência no processo criativo e de produção. O desenvolvimento de competências intrínsecas à elaboração construtiva do exercício da atuação promoveu a qualidade artística que conquistou públicos em todo o Brasil. De Carlos Alberto Ratton e com a caprichada direção de Gilberto Brito, “Dorotéia vai à guerra” levou o coletivo a um posto referencial das artes dramáticas no estado de Pernambuco.

Após um intervalo de seis anos, a montagem de “Diário de um louco” retoma os métodos artísticos que pavimentaram o desenvolvimento do Arte-Em-Cena. Foi nesse espetáculo que surgiu a parceria com o diretor Nildo Garbo, que trouxe ao grupo sua inovação na elaboração dramática e na melhoria da formação artística. Nildo, até hoje, assina a direção das peças realizadas pela companhia. A peça “Diário de um louco”, de Nikolai Golgol, recebeu a adaptação de Rubem Rocha Filho e teve apresentações realizadas também em instituições de ressocialização, como a Penitenciária Juiz Plácido de Souza, em Caruaru. Em 2003, foi a vez da literatura de cordel inspirar a criatividade do coletivo. “Romance do Conquistador”, de Lourdes Ramalho, chegou aos palcos com inventividade e regionalismo. Este espetáculo também participou da reinauguração do Teatro Severino Cabral em Campina Grande na Paraíba e teve apresentação no Festival de Inverno de Garanhuns.

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A adaptação de “Deus danado”, de João Denys, em 2007, se tornou o espetáculo mais desafiador para as habilidades artísticas do Arte-Em-Cena. Em sua terceira direção no grupo, Nildo Garbo teve a missão de traduzir, nessa montagem, a complexidade do texto que faz uma ligação entre a regionalidade e a universalidade. A peça ficou anos em cartaz e ao final da última temporada, em 2010, foi filmada por Luiz Felipe Botelho, em uma iniciativa que visou promover discussões sobre as linguagens do teatro e do audiovisual. O DVD foi lançado em 13 de agosto de 2012, no Cineteatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Logo após, em 15 de agosto de 2012, o DVD foi promovido no Teatro Rui Limeira Rosal no SESC em Caruaru.

Após algumas modificações, o grupo recebe a atriz Welba Sionara, que passa a compor o espetáculo “Dorotéia Vai à Guerra”. Esta peça reestreou em uma temporada no ano de 2011. Novamente, a encenação obtém grande sucesso e foi prestigiada com a participação de professores e alunos de colégios da rede pública. “Dorotéia Vai à Guerra” representou o Brasil à convite do Entretanto Teatro e da Câmara Municipal de Valongo, cidade do Porto, em Portugal.

Ao longo dos sete espetáculos produzidos pelo Arte-Em-Cena, vários atores e atrizes despontaram. Severino lembrou com carinho da participação de alguns membros. “Passaram muitas pessoas no grupo. São pessoas amigas, como Erenice Lisboa (atriz) e José Manoel, que foi o primeiro diretor”. O fundador da companhia também ressaltou que foi uma trajetória construída de acordo com cada pesquisa, com cada texto, cada momento. “É um grupo com equipe pequena.  Sempre foi, pois, ao criar o grupo, pensei nisso também. Pensei nas questões das dificuldades de produção dos espetáculos e na manutenção. Com um grupo grande, poderíamos enfrentar mais dificuldades. Com um grupo pequeno, seria mais fácil nos manter ativos nas produções e de ter tempo para os ensaios”.

Ao completar 30 anos de atividades, o grupo Arte-em-cena pode ser considerado um grande exemplo de resistência cultural na cidade de Caruaru e, hoje, é reconhecido pela Câmara de Vereadores do município como prestador de serviços de utilidade pública.

Em suas mais distintas manifestações, a arte encontra obstáculos para se manter presente e relevante em meio à sociedade, mas sonhos, talento e persistência podem edificar significativamente pontes entre o homem e as suas mais sublimes expressões. Nessa condição, o Arte-em-cena se mantém vivo e cada vez mais desafiador.

 

Espetáculo “A visita” comemora o trigésimo ano do grupo

O espetáculo “A Visita”, do grupo Arte-Em-Cena, de Caruaru, traz, por meio da simplicidade do universo nordestino, a memória afetiva do Brasil. Versos, canções, ritos e costumes levam o personagem Antônio a destrinchar estimadas lembranças e dissabores de uma vida fincada em raízes permeadas por saudades. Antônio passeia pelo imaginário existencial que pavimenta diálogos e reflexões numa esfera solitária e distante da moderna contextualização atual.

O experiente ator Severino Florêncio, magistralmente, incorpora elementos intrínsecos à árida realidade do seu personagem, movendo cenas e comovendo o público. Severino também aponta a necessidade, por meio dessa obra, de sair do formato convencional do palco do teatro, para ficar mais próximo do público. “Quero fazer o espetáculo “A Visita” na zona rural. Acho que este espetáculo cabe muito bem dentro deste formato”.

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A direção primorosa de Nildo Garbo, que também assina os figurinos e a maquiagem, conduz o ator a impressionantes reconstituições de falas e sentimentos de situações já vividas. A teatralidade é explorada ao máximo no cenário, nos elementos cênicos e na abordagem social que afasta balizas de enquadramento e expõe a opressão vinda da tão falada globalização. Nesse recorte circunstancial, atentamos para o discurso do autor, o espanhol Moncho Rodriguez, que lança ao mundo a incompreensão e a apreensão geradas por um mundo cada vez mais imerso no caos capitalista.

“A Visita” já realizou temporadas em Portugal e em diversas cidades em nove estados brasileiros. O espetáculo tem sido encenado nas comemorações dos 30 anos a partir de convites de escolas, empresas, prefeituras e outras instituições.

 

 

 

 

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